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Por que a pesquisa científica é importante para o tratamento do câncer?

Dr. Renato Oliveira, da equipe do IUCR trouxe uma reflexão sobre o papel da pesquisa científica para o desenvolvimento de novas drogas, condutas e técnicas cirúrgicas e falou também sobre os desafios em termos de fomento de recursos que a ciência enfrenta em um país grande e diverso como o Brasil



Dr. Renato Oliveira

Maio é o mês da Mês da Pesquisa do Câncer. E para saber como o desenvolvimento científico tem contribuído para o tratamento do paciente oncológico, conversamos com o médico cirurgião, especializado em uro-oncologia, Renato Oliveira, da equipe do IUCR.


Confira a entrevista completa.



Qual é a importância da pesquisa científica para o paciente oncológico?


É fundamental em todos os aspectos, primeiro para gerar conhecimento.  É graças à ciência  que temos hoje o desenvolvimento de novas drogas para combate ao câncer, principalmente em doenças avançadas. Outro aspecto importante é a integração entre a pesquisa básica e a pesquisa clínica aplicada que resulta no que chamamos de pesquisa translacional. A pesquisa básica tem como objetivo gerar conhecimento que seja útil para a ciência e a tecnologia, sem necessariamente haver uma aplicação prática. A pesquisa aplicada busca gerar conhecimento para a aplicação prática. A pesquisa translacional, por sua vez, consiste na conexão entre a pesquisa básica e a aplicada, com objetivo de levar descobertas científicas para aplicação no mundo real, beneficiando, no caso da medicina, os pacientes.  Esse processo de conhecimento pode gerar, além de novos medicamentos, mudanças em condutas clínicas. Dessa forma, toda essa interação acaba tendo impacto nos resultados finais de tratamento.

 

Além do impacto positivo em tratamentos, que outros benefícios o investimento em pesquisa pode trazer?


Investir hoje em pesquisa científica é uma forma de no futuro nos tornarmos mais eficientes e, com isso, elevar a qualidade e diminuir o custo da saúde. Isso porque com mais conhecimento, vamos ter uma diminuição dos custos relacionados ao tratamento das morbidades e evitar a mortalidade.

 

Qual é sua avaliação em relação à produção científica no Brasil na área da oncologia?


A produção cientifica no Brasil vem se aprimorando, especialmente, na oncologia. Os pesquisadores e centros de pesquisa brasileiros são de altíssima qualidade e produzem conhecimento científico de impacto na prática da oncologia. No entanto, do ponto de vista comparativo com outras nações, nós ainda carecemos de investimento para multiplicar o número de centros de pesquisa e de pesquisadores e, consequentemente, nossa produção.

 

Nas áreas de atuação do IUCR, quais foram os principais avanços que a pesquisa realizada no mundo trouxe para os pacientes nos últimos anos?


Especialmente na uro-oncologia, a pesquisa translacional culminou no desenvolvimento de novas drogas, principalmente para o tratamento de pacientes com câncer metastático de próstata, bexiga e pulmão. Nesses tipos de cânceres vimos, nos últimos anos, o desenvolvimento e o emprego, cada vez mais importante de drogas que modificaram a história natural dessas doenças.  No caso das drogas que usamos para tratar o câncer de próstata, hoje, elas são chamadas de drogas modificadoras de sobrevida porque trouxeram grandes benefícios para os pacientes, com impacto na sobrevida livre de recorrências e de metástases. Além disso,  em doenças avançadas, os pacientes passaram a viver por mais tempo porque têm acesso a diferentes linhas de tratamento. Em doenças localizadas,  com os resultados de pesquisas, houve melhoria nas técnicas operatórias. Entre elas,  a cirurgia robótica e o desenvolvimento de novas técnicas dentro da robótica, que melhoraram os resultados funcionais e oncológicos dos pacientes que são submetidos a esses procedimentos.

 

Esses avanços tiveram impacto no IUCR?


Sem dúvida. No IUCR, atuamos com doença localizada, que tratamos basicamente com cirurgia, e com doença avançada, com tratamento realizado por meio de drogas. Portanto, ao incorporar os avanços, tivemos um impacto profundo em nossa atividade, com ganhos para nossos pacientes em termos de qualidade de vida e  funcionalidade e maior controle oncológico de neoplasias urológicas.

 

Quais são os desafios para quem deseja atuar com pesquisa na área de oncologia no Brasil? Como vencê-los?


O principal desafio da pesquisa no Brasil é o financiamento, porque não há dúvidas de que a pesquisa custa caro, principalmente,  estudos de ponta. Na pesquisa básica, por exemplo, hoje o destaque é a genética, um segmento que demanda investimentos expressivos. No Brasil, atualmente, temos iniciativas, inclusive do governo federal, como o Programa de Apoio ao Desenvolvimento Institucional do Sistema Único de Saúde (Proadi-SUS), que reúne um grupo de instituições consideradas de excelência. Por meio de um dos projetos dessa iniciativa será realizado o sequenciamento genético para pacientes do SUS que têm câncer e seus familiares suspeitos. Sem dúvida, é um projeto arrojado do qual participamos por meio da BP- A Beneficência Portuguesa de São Paulo. No entanto, o Brasil é um país grande e populoso e precisamos de mais. Para vencer esse desafio precisamos do investimento de instituições de outras esferas do governo e da iniciativa privada. Avalio que hoje, comparado ao que acontecia há dez anos, o fomento à pesquisa melhorou. Mas ainda estamos aquém de nossas necessidades. Apesar disso, há produção científica brasileira relevante na área da oncologia feita pela academia. Vemos cada vez mais centros brasileiros sendo incluídos em estudos multicêntricos, participando com publicações importantes.

 

Quem são os principais incentivadores da pesquisa científica no Brasil?


Dentre os maiores incentivadores da pesquisa científica no Brasil, sem dúvida alguma, a pesquisa básica, principalmente, está atrelada à pós-graduação. Então temos algumas instituições de fomento que são publicas, como a Fapesp, em São Paulo. As universidades estão com a maior parte desses investimentos. Também existem alguns centros formadores não universitários de excelências no Brasil, que acabam buscando o fomento de sua pesquisa nessas instituições. Entre as organizações privadas que começam a participar como players, o destaque é a indústria farmacêutica, que incluem os centros universitários e não universitários para desempenho de seus estudos, principalmente, pesquisa clínica.

 

Os médicos do IUCR se dedicam à pesquisa científica?


O time do IUCR também atua  na pesquisa e isso já acontecia mesmo antes de nossa fundação. A maioria de nossos médicos é pós-graduada. Os mais jovens que se juntaram à equipe mais recentemente, estão no caminho da pós-graduação, fazendo mestrado, doutorado e seguindo com publicações, principalmente, na área de uro-oncologia. Por sinal, o diretor do IUCR,  Gustavo Guimarães, é um dos principais estudiosos do mundo nessa área, com pesquisas de altíssimo impacto. Eu também me dedico a publicações nas áreas de uro-oncologia  e de gestão de saúde.

 

E sobre a cirurgia robótica, qual tem sido o impacto da ciência?


Tudo o que fazemos hoje em termos de cirurgia robótica é fruto de muita pesquisa e muito trabalho desenvolvido no mundo inteiro. Nós também participamos com nossa cota de pesquisa em cirurgia robótica, com estudos publicados com base  em resultados clínicos e  de eficiência e economia em saúde. Estamos em constante aprendizado porque a tecnologia está sempre em evolução. Com isso, temos condições de oferecer a nossos pacientes sempre os melhores resultados. Hoje no mercado estão chegando novos players, com suas plataformas robóticas. São novos conhecimentos,  aprendizados e possibilidades de tratamento. Para o futuro, tudo indica, que haverá o uso de tecnologias ainda mais robustas, com a possibilidade do uso de transmissão de dados e a viabilidade da telecirurgia, com o cirurgião participando a distância de uma cirurgia robótica. Então é um campo em constante modificação, com rápida incorporação de tecnologias em benefício dos pacientes.

 

Como você caracteriza  a atuação do IUCR?


O IUCR atua nos pilares da assistência, ensino e pesquisa. Dentro do ensino já disseminamos a cirurgia robótica para centenas de médicos e equipe multiprofissional, em diferentes cidades. Além disso, temos um programa de fellow em cirurgia robótica na área de urologia na BP, onde temos atuação importante.  Fazemos publicações cientificas com nossa casuística, nossos resultados, aprimorando o entendimento e revertendo esse conhecimento para os pacientes que atendemos. Os pilares pesquisa, ensino e assistência são a alma do IUCR e nos permite atuar com uma abordagem ampla com nossos pacientes.

 

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