Com toda essa movimentação no mundo, a cirurgia robótica deverá ficar mais acessível. Em países como o Brasil, no entanto, ainda há alguns entraves a serem vencidos para que isso aconteça.
Desde a quebra da patente da plataforma Da Vinci, da Intuitive Surgical, em 2019, o cenário da cirurgia robótica no mundo mudou com a entrada de novos players no mercado.
Em tese, com o aumento de alternativas tecnológicas, esse tipo de cirurgia minimamente invasiva tende a se tornar, com o tempo, mais acessível em termos de custo. No entanto, isso vai acontecer de acordo com a realidade de cada país porque há outras questões, além do mecanismo do mercado maior concorrência/menor custo, que influenciam no preço da cirurgia robótica.
O cenário brasileiro da cirurgia robótica
No Brasil, por exemplo, o alto investimento necessário para colocar em funcionamento a cirurgia robótica em uma instituição de saúde resulta em custo que limita a possibilidade do procedimento a uma parcela pequena da população.
Até o momento temos no país, basicamente, dois novos concorrentes: o Versius, da inglesa CMR Surgical, e o Hugo RAS, da norte-americana Medtronic. Essas plataformas representam ainda iniciativas muito incipientes para levar o mercado a uma queda de preço.
Outro aspecto importante no mundo referente a cirurgia robótica é a tendência cada vez maior da fabricação de robôs dedicados a tipos específicos de procedimentos.
Vamos lembrar que o Da Vinci dominou o cenário, atuando com especialidades relacionadas à cirurgia geral. Portanto, até então, a tecnologia robótica estava sendo utilizada, principalmente, para cirurgias do aparelho digestivo, do tórax, ginecológica, urológica, entre outras. Com o tempo, os fabricantes começaram a apostar em robôs voltados à ortopedia, neurocirurgias, cirurgias de coluna e procedimentos vasculares.
Inclusive a pioneira da cirurgia geral, a Intuitive Surgical, está inserida nessa tendência e oferece, por exemplo, um robô capaz de realizar broncoscopia, que é uma endoscopia do pulmão. O ROSA Knee System, da Zimmer, é especializado em prótese de joelho. O Mazor, da Medtronic, em coluna vertebral. Já o Mako, da Stryker, faz cirurgias de joelho e quadril. São mais de 30 novas plataformas no mundo entrando em diferentes mercados.
No Brasil há a expectativa da liberação pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) de duas plataformas, ambas chinesas, até 2025. São os robôs , Touma, da Microport, e o Shurui, da Beijing Shurui Robot.
O Shurui apresenta tecnologia single port, que permite que a cirurgia seja realizada por meio de uma única incisão. Os braços do robô se abrem para a cirurgia dentro do organismo do paciente. As plataformas anteriores são multiport, com a cirurgia realizada por meio de, pelo menos, quatro incisões por onde o robô opera.
Com toda essa movimentação no mundo, a cirurgia robótica deverá ficar mais acessível. Em países como o Brasil, no entanto, ainda há alguns entraves a serem vencidos para que isso aconteça.
Há três pilares principais que balizam o custo em nosso país: o investimento no robô, em sua manutenção e nos insumos necessários a seu funcionamento.
O preço da cirurgia robótica é composto por esses três pilares, sendo que o robô e os insumos são importados e pagos em dólar, uma moeda muito mais forte que o real brasileiro. Esses valores precisam diminuir para que o procedimento se torne mais acessível. Somente assim será possível levar a mais pessoas os benefícios agregados a cirurgia robótica, que são menos agressivas, mais precisas, mais seguras, com menor chance de eventos adversos, menor morbidade e melhores resultados funcionais.
A cirurgia robótica teve início no Brasil em 2008, com destaque para sua utilização em câncer de próstata, procedimento no qual a equipe do IUCR é pioneira, com mais de 5 mil procedimentos realizados entre 2009 e 2024.